quinta-feira, maio 12, 2005

 

Doente e Doentes

.
Apesar de continuar em modo Benfica, praticamente em piloto automático, volto aqui porque aconteceram algumas coisas importantes. De repente, descobri-me... doente. Sim, passei-me para o outro lado!

Há coisa de 10 dias, mais ou menos, comecei a sentir uma leve dor, quase um misto de desconforto e ardor, no fundo das costas. Bem, não era bem no fundo das costas, era um bocadinho mais abaixo... já em pleno sulco inter-gluteo. Sim, isso mesmo... lá mesmo em baixo, junto ao cóccix! Passado 2 dias, e como a dor não passava, durante um banho pus-me a explorar - Porra, um inchaço... e, o que é isto??... um recesso, um orifício?? - Já com uma forte suspeita "fui-me mostrar", nesse dia, ao cirurgião. Veredicto: quisto dermoide sacro-cóccigeo.
Pois, não basta o embaraço de isto ser uma doença de putos, ainda vou ter que ser operado para retirar a porra do quisto. A cirurgia até é simplória mas a recuperção é demorada e bastante incómoda: retiram o quisto e deixam cicatrizar por segunda-intenção ou, dito de maneira mais directa, deixam ficar o buraco aberto (em "carne-viva") e vai fechando, lentamente, durante um mês ou mais. Já me contaram, detalhadamente, as peripécias de quem passa por isto!

Como se não bastasse o quisto, parti um dedo a jogar futebol... no aquecimento! Fracturei a 3º falange do 4º dedo da mão esquerda, na insersão do tendão extensor. Agora uso uma linda tala de Stark, para manter o dedo esticado, e ando meio coxo da mão esquerda. Coisa para 2 meses, disseram-me.

Entretanto, conheci o senhor Santos.
O Sr. Santos tem 84 anos e é um velhote catita. Foi ter comigo porque tem dois tumores do intestino grosso: um no cólon descendente, claramente maligno, a requerer cirurgia sem qualquer dúvida; o outro é (ou era) um enorme tumor viloso do recto, provavelmente ainda benigno (ou só com alguns focos malignos...). O problema é que este segundo tumor está (estava) situado logo acima do canal anal e uma cirurgia implica a amputação do ânus, com encerramento deste e colostomia definitiva (o saquinho!). E o senhor Santos tem 84 anos, e é catita, e não quer nenhum saquinho.
Explicadas as opções e conhecendo os riscos, avançámos para a chamada mucosectomia endoscópica: remover, por via endoscópica, em bloco ou em fragmentos, o dito tumor viloso do recto. Só que era o maior tumor deste tipo que eu já vi e, quando comecei o procedimento, não me apercebi da sua real extensão. A mucosectomia em fragmentos prolongou-se por 3 sessões, em 3 dias, e enchemos 3 frascos para análise. Passo a passo, bocado a bocado, lá fomos desbastando a besta e hoje, ao fim de mais de 4 horas (totais) de árduo labor, apresentava uma extensa úlcera no local onde morava o tumor. Enfiei o tubo mais de cem vezes naquele rabo... Fui conhecendo o senhor Santos.
- Então doutor, agora que está a acabar diga-me lá... Está satisfeito?
- ... Não completamente, estou convencido que existe ali uma ponta que não foi completamente removida.
- E então?
- Daqui a 15 dias revemos e logo se vê. Podemos retirar o resto...
- E é maligno?
- Este não sabemos... Não me parece, mas só a análise é que nos vai dar a certeza.
- ...
- Mas o outro, aquele lá de cima é... E precisa de ser operado.
- E já tenho metástases no fígado?
- Não... os exames não mostram nada!
- ...
- Voltamos a ver-nos no dia 24 e aí, combina-se tudo com o cirugião.
- Está bem, doutor!
- Desta parte já está safo...
- Isto tudo foi da vida que levei...
- Naaa, acho que não... Mas desde que tenha valido a pena, senhor Santos...
- Valeu... doutor, valeu!

Comments: Enviar um comentário

<< Home