quinta-feira, junho 16, 2005

 

Sem compromisso

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- Boa tarde P! Sente-se…
- Boa tarde doutor!
- E então, como é que isso vai andando?
- Acho que bem…
- Sim, você parece-me bastante bem… teve alta, faz hoje uma semana, não é?
- É.
- E quando é que foi operada?
- Faz amanhã quinze dias…
- Pois foi… e como é que se tem adaptado?
- Vai devagarinho, doutor… algumas coisa ainda me fazem impressão.
- Mas, lá em cima, antes de ter alta… explicaram as coisa bem, não explicaram?
- Sim, explicaram… mas é difícil, vai indo devagarinho.
- Tem algum problema com a mudança dos sacos?
- Não, nisso já estou habituada…
- Então?
- Bem, ainda me faz muita impressão limpar o orifício… ahhh, é muito esquisito, mexer naquilo!
- Vá com calma, é assim mesmo… mas pode mexer e limpar à vontade.
- Sim, eu sei.
- E quantos sacos muda?
- Ahhh… cerca de 2 por dia.
- E as fezes, já vêm mais formadas?
- Sim, pastosas… sei lá, talvez como maionese, mas mais espessa.
- Então, acho que está tudo a correr dentro do esperado…
- É verdade, doutor… sempre ligou à C?… Como me tinha dito!
- Ehhh… esqueci-me!!
- …
- Mas espere lá… vou pedir para lhe ligarem!

A P tem cerca de trinta anos e uma doença de Crohn tramada, com envolvimento peri-anal e formação de abcessos e fístulas. Depois de vários tratamentos que apenas conseguiram estabilizar parcialmente a doença, acabou por fazer uma colostomia – esperamos que provisória – para controlar uma supuração peri-anal grave. Está a começar a sua adaptação a uma nova vida…

- Está… C?
- Sim?
- Sou eu, P do hospital… Então como vai?
- Ahhh doutor… está tudo bem!
- E quando é que vai a Coimbra?
- Estou à espera que me chamem…
- Bem, este telefonema não é por nada de especial… desta vez sou eu que lhe quero pedir uma coisa.
- Sim?
- Sim… diga-me lá, quer falar ou encontrar-se com uma jovem que também tem doença de Crohn e ficou com uma colostomia há duas semanas?
- Também tem uma colostomia…?
- Sim, o caso é um bocado semelhante ao seu… então, que me diz?
- Ahhh… sim, doutor podemos falar…
- Ó C… isto é um pedido, está a perceber. Se achar que não está a vontade…
- Não doutor, agora já falo disso com facilidade. Se fosse noutra altura, não sei… que idade tem?
- Trinta, mais ou menos… chama-se P.
- Tudo bem doutor… como é que fazemos?
- Olhe, eu vou-lhe dar o número de telémovel dela, você liga-lhe e combinam as duas, está bem?
- Está bem.
- Obrigado C… e não tem compromisso nenhum, é um favor que me faz!

A C é mais nova, ainda não tem trinta anos e também tem doença de Crohn. Por razões semelhantes ficou com uma colostomia – temporária – há quase três anos. A doença está, actualmente, bem controlada mas uma importante estenose ano-rectal tem protelado o encerramento da colostomia. Definitivamente? Não sei…

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