segunda-feira, fevereiro 05, 2007

 

Prá mátadona!

.
Voltámos ao nosso programa de rastreio num novo Centro de Saúde. Naquele dia calmo, enquanto o trabalho não apertou, encostei-me à porta e olhei em volta.
Durante toda a manhã entraram um após outro, geralmente pela porta lateral, a maioria discretos e rápidos, quase todos calados, num vai e vem contínuo. Entraram um após outro, homens e mulheres, novos e velhos, ricos e pobres, todos iguais uns aos outros e paravam na pequena sala de espera como quem não quer a coisa. Na saleta ao lado da nossa o funcionário aborrecido nem bom dia dizia, conferia os nomes, fazia uma careta e servia-lhes a mistela de uma garrafa opaca com um doseador atarrachado. Bebiam-na toda, de um trago, sem sabor, sem palavras… como quem cumpre um ritual obrigatório mas que não percebe porquê. Ausentes, saíram um após outro e nem até amanhã diziam.
A auxiliar, solícita, segredou-me.
- É prá mátadona, doutor!
- Humm?
- Eles… os drógádos!
- Ahh… pois!

Comments: Enviar um comentário

<< Home