quinta-feira, novembro 30, 2006

 

Crime e Redenção

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Esteve aqui um post... Desculpem, foi engano. Não era daqui, era dali!

segunda-feira, novembro 27, 2006

 

A Sila vai ser operada, outra vez

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De hoje a oito dias a Sila vai ser operada. Outra vez...
Desde há sete ou oito anos, tantos quanto a vou seguindo, que tenho assistido à progressiva evolução da doença e à progressiva quebra da Sila.
Assisti aos inúmeros novos e velhos tratamentos que se começaram e falharam, uns logo desde o início, outros após ilusórias melhorias. Assisti às três ou quatro operações a que já se submeteu, aos bocados de intestino que lhe foram tirando, sem benefícios que se vissem. Assisti às várias idas a Lisboa e Coimbra, para ouvir velhos professores e novas opiniões, voltando sempre ao mesmo.
Assisti ao afastamento do pai, ao abandono do namorado, à tristeza da mãe. Assisti às suas esperanças e resignações, aos seus regressos e isolamentos.
Assisti a todas as vezes a que ela veio à consulta, quando ria e quando chorava, quando falava e quando se calava, quando olhava para a colostomia sem lhe saber mexer e quando me disse que não aguentava mais, com cara de quem já tinha aguentado tudo.
Assisti a tudo, omnipotente-impotente, cheio de ilusões de salvador, cheio de dúvidas de doutor, na esperança do último medicamento, na certeza do último erro.
Assisti a tudo e estou cansado. Farto!
Quero... Não, não é querer... Eu exijo que desta vez seja a valer, que desta vez a Sila fique boa, fique melhor... e que não volte a ficar pior.

A Sila tem 26 anos, tem uma Doença de Crohn tramada e daqui a oito dias vai ficar sem o resto do intestino grosso. Definitivamente!

E acima de tudo, por mais que me segrede que não, que apesar de tudo eu fiz alguma coisa para que ela passasse melhor, olhar para a Sila é ver o reflexo do meu fracasso. Todos os meses, todas as semanas...

PP: Noto que prometi continuar os Diários da Viagem... Bem, vou ver se ainda os encontro!

quinta-feira, novembro 23, 2006

 

A noite do 112

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Acordou, a meio da noite, sobressaltada, no meio de um sono agitado. Sentia-se mal… sim, de certeza que havia qualquer coisa mal. Aquela tontura, uma enorme tontura que mal lhe deixava abrir os olhos… e a dor. A dor, ali no peito… sim, mesmo no meio do peito, já tinha esfregado e a dor não tinha passado, estava exactamente na mesma. E o quarto tão escuro… até lhe parecia ouvir gemidos. Sim gemidos, alguém gemia… ou era ela? Claro que era, era ela que estava a gemer, gemia porque lhe doía o peito e já tinha esfregado mas não passava. E o quarto tão escuro que não conseguia ver nada… E a tontura que nem a deixava abrir os olhos… Se ao menos estivesse ali a filha, mas não, não estava. Já tinha gritado por ajuda mas ninguém apareceu, nada. Se ao menos a filha ali estivesse, acendia a luz e o quarto não ficava tão escuro. E a dor que não passava, cada vez pior… até tinha falta de ar, queria respirar e o ar não entrava. Estava com falta de ar, com muitas tonturas… e a dor. Tinha que fazer qualquer coisa… qualquer coisa para ter ajuda, porque ninguém vinha ajudá-la. Se, ao menos, a filha ali estivesse…
Pegou no telemóvel e ligou o 112
- Ligou para o 112… Em que podemos ajudar?
- Sinto-me muito mal, com dores e falta de ar… têm que me ajudar!
E a perguntas continuaram... qual a idade, que mais sentia, de onde ligava e por aí fora.

Eram quatro e vinte da manhã e a enfermeira mal conseguia ler a revista. O turno estava calmo e controlado e, dali a pouco mais de 3 horas, já estaria bem longe dali. Pena era o frio, que era bastante… e ter tanto sono.
Tocou o telefone e ela atendeu
- Está lá…
- Bom dia… estamos a ligar do CODU!
- Sim…
- É sobre a doente Maria dos Anjos…
- Sim?
- A senhora sente-se muito mal, está com toracalgia e dispneia… era bom irem ver o que se passa e colocar O2, talvez.
- A dona Maria dos Anjos?
- Sim, a vossa doente da cama 22… É que ela ligou aqui para o 112!

CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes) – Central onde são atendidos e filtrados os telefonemas para o 112, e de onde são dadas as instruções às equipas médicas do INEM.

segunda-feira, novembro 20, 2006

 

A colher

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E então, dona Maria... tem andado melhor dos intestinos?
Sim, doutor! Um bocadinho melhor...
Já vai à casa de banho com mais facilidade?
Sim, quase todos os dias... E estou muito menos dureira!
Está a ver! Isto está quase bom...
Sim, doutor está um bocadinho melhor.
...
Mas ainda não está o normal!
Ora, dona maria, nisto de obrar não há o normal!
Pois, mas ainda não estou normal.
E toma o medicamento certinho?
Qual? O granulado?
Sim... ora deixe cá ver... Sim, o granulado, Agiolax!
Todos os dias, doutor... tomo todos os dias, sem falhar!
E toma uma colher de quê?... de sobremesa?... de sopa?
De sopa, doutor. Todos os dias!
É que se acha que não está bem de todo, ainda pode aumentar... Tomar mais!
Ai posso? Uma colher de sopa não chega?
Pode não ser suficiente, pode tomar mais. A dona Maria é que tem que regular a dose...
Ahhh... Eu achava que era suficiente. É que a colher vai cheia. E é grande... tomo tudo!
Pois, mas mesmo assim pode...
Quer ver?
Ver?
Sim!
...
Ver a colher que tomo!
Ahhh, a colher!
Sim... é que a tenho aqui!
Tem?
Sim... é que os sapatos me ficam apertados e se me descalço, preciso de uma calçadeira!
Ahhh!

sexta-feira, novembro 10, 2006

 

João Sebastião

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A colite até andava bastante bem mas, naquele dia, o João Sebastião fartou-se de me fazer queixas. Desde há algum tempo – não sabia bem quanto – que andava mal de urinas, que parecia que era mais fraco – o jacto -, que vinha às pinguinhas, que parecia que até ardia qualquer coisa... Lá fui ouvindo, pacientemente, enquanto pensava que ele ainda era muito novo para padecer da próstata e que os homens raramente têm infecções urinárias. Quando acabou a ladainha, lá lhe disse: Bem, vamos fazer umas análises de urina e depois logo se vê se tem algum problema!
Uma semana depois, lá estava novamente o João Sebastião. As análises, completamente nornais, ele não. Já nem era o jacto ou as pinguinhas, que isso até já tinha passado, agora era a sensação que ardia, por ali, algures perto da cabeça de pila. Até me parece que purga, doutor – queixava-se - Purga? Mas tem a certeza... Suja as cuecas? - Bom, sujar, não suja... mas deve purgar! Pois, deve purgar, diz ele... O melhor é fazer um antibiótico, que sirva para infecção urinária e para uretrite. E depois logo se vê. Toma este antibiótico de doze em doze horas, certinho... Prá semana venha cá dizer-me como está!
Passou a semana e lá voltou o João Sebastião. Arde, doutor! Arde muito.... Aqui! – e apontava - Arde tanto... e deve purgar, de certeza! Isto parece mesmo a sério... pode ser que seja uma uretrite, daquelas a Clamidia ou lá o que valha. Mas será que ele nada por aí a molhar o pincel? O João Sebastião?? Com esta carinha e óculos de cinquenta diopetrias... Ai, ai! Acho que é melhor mandá-lo a um urologista- disse - eles podem fazer exames mais específicos e receitar um antibiótico mais adequado. Está bem? Ficou meio indeciso, meio atrapalhado... já se parecia dirigir para a porta, com o pedido de observação, quando se voltou e despejou de um fôlego: Doutor... tem que me pedir as análises da SIDA, por favor! É que eu dei uma escapadela... Coisas, doutor!
Mais uma semana e o João Sebastião apareceu sem marcação. Apanhou-me, desprevenido, na volta de uma esquina e não pude escapar. Doutor, e a tal análise? A análise era negativa, tinha ido ao urologista, tinha feito exames – normais – e levado com um antibiótico “forte” em “dose de cavalo”. E como está? – perguntei – Quase igual, doutor... Arde menos, parece-me... Quase não arde lá dentro.... mas agora, na pele, por fora, é um impressão terrível... E até está diferente. Ai, gritei para dentro - Quer ver? Ai, gemi para dentro, e lá tive que ver, ou melhor, não vi nada enquanto ele explicava como aquilo estava assim e assado, rugoso e avermelhado. E não dá comichão? Que não. E não cria porcaria nenhuma...? Nada. Decidi dar-lhe Nistatina em creme – para uma eventual Cândida – e prometer-lhe mais uma semanita.
Já sabia que estava à minha espera, o João Sebastião. Era claro que não tinha melhorado nada, isto se não tinha piorado. Voltou a descrever a impressão, a mancha – agora mais esbranquiçada – e as agonias que sentia. Que ver?Não!! Papel escrito e lá foi para novo especialista, desta vez o dermatologista.
Agora, o João Sebastião já não vem de semana a semana, voltou ao ritmo normal. A colite continua do melhor. As impressões, os ardores e as manchas na pila por lá continuam, mais ou menos na mesma, e o dermatologista não adiantou muito. Em todas as consultas fala delas, de cara pesarosa, como que resignado à sua eterna marca de Caim.
De facto, há escapadelas que não valem o peso na consciência.

terça-feira, novembro 07, 2006

 

E se eu gostasse muito de morrer?

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Este fim de semana choveu muito. Demais até, parece-me!
Aproveitei e fiquei em casa, já pertinho da lareira, a ler o livro “E se eu gostasse muito de morrer...”. Garanto-vos que é bastante bom, mas muito estranho, aquele livro. Talvez não seja para todos, claro... É que eu conheci o autor - o Rui Cardoso Martins - há muitos anos, na infância e adolescência de Portalegre. Conheci, ou identifiquei, quase toda aquela gente de que o livro fala. Conheço, ou conheci, todos aqueles locais que o livro descreve. Enfim... quase todas aquelas vivências, foram as minhas vivências!
Garanto-vos que é muito estranho.... um arrepio, uma saudade, um sei-lá-quê...
Recomendo!



quinta-feira, novembro 02, 2006

 

Dia de Santos

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Ontem comi umas papas de milho muito boas... E, por mais anos que passem, sabem-me sempre à casa da minha avó!
Para que gosta de receitas, aqui fica. Esta é da Beira Alta... Lá pelos meus lados tem-se por hábito come-las, nesta altura, regadas com um fio de mel!

Ingredientes:

200 g de milho traçado
7,5 dl de leite
150 g de açúcar
sal
canela

Confecção:

Põe-se o milho de molho em água fria, durante 1 ou duas horas e retiram-se as peles que vêm à superfície.
Escorre-se o milho e leva-se ao lume com água temperada com um pouco de sal. Quando a água evaporar, começa-se a juntar o leite a pouco e pouco, mexendo sempre.
Tempera-se com o açúcar e deixa-se cozer um pouco mais.
Servem-se polvilhadas com canela

Aspecto (aproximado):