sábado, dezembro 30, 2006
The last... but not the least
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Melhorei. Tomei umas pílulas e reduzi nas azevias, estou bastante melhor.
Como, se calhar, já não nos vamos ver, desejo a todos umas excelentes entradas. Que 2007 seja, no mínimo, um bocadinho melhor que 2006.
Até já!
Melhorei. Tomei umas pílulas e reduzi nas azevias, estou bastante melhor.
Como, se calhar, já não nos vamos ver, desejo a todos umas excelentes entradas. Que 2007 seja, no mínimo, um bocadinho melhor que 2006.
Até já!
terça-feira, dezembro 26, 2006
Um post intimista
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Depois da bonança, vem sempre a tempestade!
Estou com muita azia e cheio de gases, e até ao próximo fim-de-semana só prevejo que a coisa piore... Tenho que ir ao médico!
Depois da bonança, vem sempre a tempestade!
Estou com muita azia e cheio de gases, e até ao próximo fim-de-semana só prevejo que a coisa piore... Tenho que ir ao médico!
domingo, dezembro 24, 2006
Natal em Alpalhão
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Cheguei! Ou melhor, voltei!
Gosto mais de voltar, que dá sempre uma ideia de permanente regresso. Cá, está tudo na mesma. Está sempre tudo na mesma. Gosto que esteja sempre tudo na mesma... dá-me uma ideia de permanente regresso. Claro que todos estamos um pouco mais velhos.... claro que aqui está frio a sério... mas é mesmo assim, é Natal!
Depois é como disse a Maria, fazer aquelas mesmas coisa de sempre, ouvir as mesmas conversas do ano que passou, as pequenas coisas que me deixam feliz. E comer, muito... E beber, como é bom de ver! E este ano está cá quase toda a gente - pais, irmã, cunhados, tios, primos... -, a coisa promete!
Para todos os que aqui costumam vir, para ler ou só para espreitar, desejo um feliz e santo Natal.
Cheguei! Ou melhor, voltei!
Gosto mais de voltar, que dá sempre uma ideia de permanente regresso. Cá, está tudo na mesma. Está sempre tudo na mesma. Gosto que esteja sempre tudo na mesma... dá-me uma ideia de permanente regresso. Claro que todos estamos um pouco mais velhos.... claro que aqui está frio a sério... mas é mesmo assim, é Natal!
Depois é como disse a Maria, fazer aquelas mesmas coisa de sempre, ouvir as mesmas conversas do ano que passou, as pequenas coisas que me deixam feliz. E comer, muito... E beber, como é bom de ver! E este ano está cá quase toda a gente - pais, irmã, cunhados, tios, primos... -, a coisa promete!
Para todos os que aqui costumam vir, para ler ou só para espreitar, desejo um feliz e santo Natal.
quinta-feira, dezembro 21, 2006
A idade do Enfarte
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O Celso teve um enfarte. Ou talvez não, talvez tenha tido apenas uma angina, uma angina instável. Tanto faz... O que é certo é que, logo de manhã, me disseram - Epá, tu vê lá que o Celso teve um enfarte! - Epá! E está bem? - Sim, já fez cateterismo e colocou uns stents...
Bem, pensei eu, ele já tem quase cinquenta, é mais para o gordo, deve estar carregadinho de colesterol... e é cirurgião, o que são pontos a desfavor dele. Mas, continuei, faz desporto e não fuma... o que são pontos a meu desfavor! [um certo egoísmo a funcionar, claro...]
Ao fim da tarde, antes de sair, passei lá em cima para o visitar. Pareceu-me bem, com bom aspecto... mas lá estava naquela ladaínha típica dos homens de meia idade, quando se vêem em assados - Ahhh, tenho que mudar... - Embora geralmente fique tudo na mesma. Pois, vais ter que jogar na baliza - atirei-lhe a propósito de um jogo de futebol combinado - Não, é a sério... - continuou - Ora, deixa-te de merdas... estás melhor que antes!
Quando cheguei a casa, pensei no que lhe tinha dito meio a brincar. No fundo é a sério: com os novos medicamentos, a fibrinólise, os cateterismos e os stents, o coração fica melhor depois do enfarte. Não sobra tecido morto e as coronárias ficam desentupidas... uma espécie de recauchutagem com 10 anos de validade! Pode-se bem dizer que, depois do susto, se fica... menos doente.
Já nem o enfarte é o que era!
O Celso teve um enfarte. Ou talvez não, talvez tenha tido apenas uma angina, uma angina instável. Tanto faz... O que é certo é que, logo de manhã, me disseram - Epá, tu vê lá que o Celso teve um enfarte! - Epá! E está bem? - Sim, já fez cateterismo e colocou uns stents...
Bem, pensei eu, ele já tem quase cinquenta, é mais para o gordo, deve estar carregadinho de colesterol... e é cirurgião, o que são pontos a desfavor dele. Mas, continuei, faz desporto e não fuma... o que são pontos a meu desfavor! [um certo egoísmo a funcionar, claro...]
Ao fim da tarde, antes de sair, passei lá em cima para o visitar. Pareceu-me bem, com bom aspecto... mas lá estava naquela ladaínha típica dos homens de meia idade, quando se vêem em assados - Ahhh, tenho que mudar... - Embora geralmente fique tudo na mesma. Pois, vais ter que jogar na baliza - atirei-lhe a propósito de um jogo de futebol combinado - Não, é a sério... - continuou - Ora, deixa-te de merdas... estás melhor que antes!
Quando cheguei a casa, pensei no que lhe tinha dito meio a brincar. No fundo é a sério: com os novos medicamentos, a fibrinólise, os cateterismos e os stents, o coração fica melhor depois do enfarte. Não sobra tecido morto e as coronárias ficam desentupidas... uma espécie de recauchutagem com 10 anos de validade! Pode-se bem dizer que, depois do susto, se fica... menos doente.
Já nem o enfarte é o que era!
domingo, dezembro 17, 2006
Uma atenção
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Já que a época é propícia, já que várias vezes tinha pensado em fazê-lo mas nunca tinha calhado, já que hoje me lembrei e me apeteceu... vamos lá lembrar outros blogs. Os que gosto, que gosto mesmo... aqueles que leio quase todos os dias e não aqueles que parece bem gostar.
Primeiro que todos, O Blog! Não é muito conhecido, mas já é bem velhinho. E também é meu... Na verdade ele é quase todo da T, mas também é um bocadinho meu! E de todos os outros que lá escrevem! E é bom... ou, pelo menos, eu gosto muito dele.
Depois, os Outros Dois: O Abrupto, do qual parece ser moda dizer que não se gosta... ou que não se lê... ou que nem se conhece. Tomaram muitos! Para mim, seria O Blog! se não existisse já O Blog! E o Blogame Mucho, do Besugo e a Lolita, ele médico e ela jurista, ou qualquer coisa assim. Gosto de tudo o que lá dizem, quase tudo... Chego a ter inveja do Besugo, do que conta, do que escreve, de como escreve.
Por fim, os Outros Cinco: Gostei muito dos Desabafos, de um médico, e só é pena que tenha acabado (volta JC, estás perdoado!); Gosto, embora quase nunca concorde, da visão do Bruno sobre as coisas, no Avatares; Gosto do que JP escreve no Faz de Conta... coisas que não entendo, que não percebo, mas coisas que gosto e que me parece - às vezes - que percebo!; Gosto do tom de voz, e da calma e tranquilidade, da Voz no Deserto; Gosto do Assumidamente e tenho pena que o servidor do meu hospital diga que é pornográfico...
E é tudo... Leio outros, gosto de outros, mas estes são os que eu gosto mais! E cada vez gosto menos de blogs politicamente alinhados ou jornalisticamente disfarçados.
Já que a época é propícia, já que várias vezes tinha pensado em fazê-lo mas nunca tinha calhado, já que hoje me lembrei e me apeteceu... vamos lá lembrar outros blogs. Os que gosto, que gosto mesmo... aqueles que leio quase todos os dias e não aqueles que parece bem gostar.
Primeiro que todos, O Blog! Não é muito conhecido, mas já é bem velhinho. E também é meu... Na verdade ele é quase todo da T, mas também é um bocadinho meu! E de todos os outros que lá escrevem! E é bom... ou, pelo menos, eu gosto muito dele.
Depois, os Outros Dois: O Abrupto, do qual parece ser moda dizer que não se gosta... ou que não se lê... ou que nem se conhece. Tomaram muitos! Para mim, seria O Blog! se não existisse já O Blog! E o Blogame Mucho, do Besugo e a Lolita, ele médico e ela jurista, ou qualquer coisa assim. Gosto de tudo o que lá dizem, quase tudo... Chego a ter inveja do Besugo, do que conta, do que escreve, de como escreve.
Por fim, os Outros Cinco: Gostei muito dos Desabafos, de um médico, e só é pena que tenha acabado (volta JC, estás perdoado!); Gosto, embora quase nunca concorde, da visão do Bruno sobre as coisas, no Avatares; Gosto do que JP escreve no Faz de Conta... coisas que não entendo, que não percebo, mas coisas que gosto e que me parece - às vezes - que percebo!; Gosto do tom de voz, e da calma e tranquilidade, da Voz no Deserto; Gosto do Assumidamente e tenho pena que o servidor do meu hospital diga que é pornográfico...
E é tudo... Leio outros, gosto de outros, mas estes são os que eu gosto mais! E cada vez gosto menos de blogs politicamente alinhados ou jornalisticamente disfarçados.
quinta-feira, dezembro 14, 2006
O Zé Custódio
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O Zé Custódio entrou no nosso Serviço aí há dois ou três meses. Era um negro grande, calado, de sorriso permanente, e com aquela idade meio-indefinida que todos os homens negros costumam aparentar desde que deixam de ser novos. Tinha, afinal, cinquenta e poucos anos... mas olhando para ele era impossível dizê-lo, dizer que tinha trinta e tal ou sessenta e muitos, só se podia dizer que devia ter sido um homem possante quando novo.
Só que também tinha o "fígado desfeito", como costumam dizer, uma cirrose hepática já bem avançada, ganha à custa de muito copo de vinho mal bebido. Entrou já com muito mau estado geral, muito ictérico, com ascite avantajada e, logo na primeira noite, teve vários episódios de convulsões por causa da normal abstinência. Controlada a situação inicial e feitos os diagnósticos do costume (Cirrose Hepática + Hepatite Aguda Alcoólica), inciaram-se as medidas terapêuticas: dieta hipecalórica, soros, vitaminas, diuréticos e o que mais for necessário... Mas o Zé Custódio melhorava pouco - ou nem melhorava nada! A icterícia mantinha-se, as diureses não aumentavam e, quase sem darmos conta, afundou-se num estado estuporoso meio esquisito: sonolento, apático, com um mínimo de comunicação conosco... mas sempre com aquele sorriso meio-manhoso, meuio-irónico, No meio dos exames e contra-exames, saltou uma hemocultura positiva para Escherichia Coli. Cá está! - pensámos nós - Tem uma sépsis, por causa de uma infecção urinária ou respiratória, e é isso que o está a afundar! E assim iniciámos antibióticos, confiantes... Mas ele nada, nada melhor, talvez até pior porque o rim começou a falhar e a creatinina a subir. Vai de dar albumina, mais diuréticos e acertar balanços hídricos. E esperar...
A espera valeu a pena, parecia que estava a arribar... pelo menos as análises e os registos. Mas ele, apesar de mais desperto, continuava apático e praticamente sem falar. Num dia, estavamos nós de volta dele, a discutir possíveis exames e opções de tratamento, pareceu-me que ele nos observava pelo canto do olho. Sim, estava a observar-nos de certeza, com o tal sorriso irónico do costume, com se soubesse - como se tivesse a certeza! - o que aquilo ia dar e estivesse a gozar com os nossos esforços. De certeza, o sacana...
Quando iamos para sair, fiquei para trás... aproximei dele, bati-lhe no braço e chamei - Zé!... Ehh, Zé! Como se sente hoje? - E ele nada! Nada... só o mesmo sorriso! Estava já para sair quando me pareceu que ele queria dizer qualquer coisa. Aproximei-me novamente, debrucei-me e quase encostei a orelha à boca. E tenho a certeza - posso-vos garantir! - que o ouvi: Eu quero morrer, doutor! Deixe-me morrer...
Nesse dia, depois no Serviço, no carro, na estrada, em casa, dei por mim a pensar naquilo. Era isso mesmo, ele queria morrer... a apatia, a sonolência, o sorriso malandro... ele queria morrer, estava a fazer tudo de propósito, o sacana! No dia seguinte cheguei cedo e, ainda antes das higienes, entrei mansinho no quarto do Zé Custódio, abeirei-me da cama e cheguei a boca à orelha: Tás tramado comigo, Zé... nas minhas camas ninguém morre. Não te vou deixar morrer!
Saí, de peito cheio, enquanto olhava para ele e pareceu-me - garanto-vos que me pareceu! - que o sorriso lhe tinha desaparecido da cara. Reunimo-nos outra vez e decidimos muito: vamos acertar todas as medicações e soros; ver cálcios, fósforos e magnésios... e corrigir tudo; falar com a dietista e pô-lo a comer - que não come quase nada - e a suplementos calóricos; e falar com a fisioterapia que as massas musculares estão a desparecer; e carregar na lactulose, que se fôr encefalopatia hepática ele há-de acordar! Assim, foi... em dois ou três dias melhorou a olhos vistos, ficou mais desperto, articulava monossílabos e colaborava na alimentação. Até as análises não pioraram... Só o sorriso desapareceu e o Zé Custódio parecia mais triste, mais velho.
Durante esse dias reparei que sabia muito pouco dele - ou quase nada! - não sabia onde morava nem o que fazia. Família, nada! Também nunca lhe vi visitas, mas disseram-me que tinha tido algumas no início: os donos do tasquinha onde se abastecia, e onde parece que passava os dias, vieram vê-lo algumas vezes... e o filho deles fez-lhe dois desenhos infantis que estiveram todo o tempo pregados na cabeceira da cama.
Mas um dia piorou de novo... apareceu febre e afundou-se mais uma vez naquela sonolência apática. Quando me contaram, fui logo espreita-lo e lá estava - juro que estava! - o sorriso de novo. Mais exames, análises - surge uma Pseudomona na urina que se tratou com novos antibióticos - e o Zé Custódio na mesma... sonolento, confuso, sem reacção, mas de sorriso aberto. Isto não é nada afasia... é mutismo, porra! - disse eu, já de todo, enquanto pensavamos em qualquer coisa - O gajo está a fazer de propósito! Dois ou três dias depois teve uma hemorragia digestiva alta, o rim voltou a fraquejar e a bilirrubina pulou para mais de vinte. O sorriso dele já era quase uma gargalhada. Ouvia-se!
Um dia, cinquenta e quatro dias depois de ter entrado no Serviço, o Zé Custódio morreu. Às sete da manhã, como é próprio dos hospitais. Não o vi, mas tenho a certeza - tenho! - que o sorriso estava lá! O Zé Custódio quis morrer, o grande sacana...
PP: Uma semana depois, o Zé Custódio voltou. O corpo, finalmente, tinha sido reclamado por uns familiares de Lisboa mas haviam um probleminha. Afinal não se chamava Zé Custódio, mas sim João Custódio! E os tipos da agência funerária vieram ter conosco para mudar o certificado de óbito mas não se pode... têm que mudar a identificação no registo do hospital, o que pode não ser nada fácil. Espero bem que já tenham resolvido a coisa...
O Zé Custódio entrou no nosso Serviço aí há dois ou três meses. Era um negro grande, calado, de sorriso permanente, e com aquela idade meio-indefinida que todos os homens negros costumam aparentar desde que deixam de ser novos. Tinha, afinal, cinquenta e poucos anos... mas olhando para ele era impossível dizê-lo, dizer que tinha trinta e tal ou sessenta e muitos, só se podia dizer que devia ter sido um homem possante quando novo.
Só que também tinha o "fígado desfeito", como costumam dizer, uma cirrose hepática já bem avançada, ganha à custa de muito copo de vinho mal bebido. Entrou já com muito mau estado geral, muito ictérico, com ascite avantajada e, logo na primeira noite, teve vários episódios de convulsões por causa da normal abstinência. Controlada a situação inicial e feitos os diagnósticos do costume (Cirrose Hepática + Hepatite Aguda Alcoólica), inciaram-se as medidas terapêuticas: dieta hipecalórica, soros, vitaminas, diuréticos e o que mais for necessário... Mas o Zé Custódio melhorava pouco - ou nem melhorava nada! A icterícia mantinha-se, as diureses não aumentavam e, quase sem darmos conta, afundou-se num estado estuporoso meio esquisito: sonolento, apático, com um mínimo de comunicação conosco... mas sempre com aquele sorriso meio-manhoso, meuio-irónico, No meio dos exames e contra-exames, saltou uma hemocultura positiva para Escherichia Coli. Cá está! - pensámos nós - Tem uma sépsis, por causa de uma infecção urinária ou respiratória, e é isso que o está a afundar! E assim iniciámos antibióticos, confiantes... Mas ele nada, nada melhor, talvez até pior porque o rim começou a falhar e a creatinina a subir. Vai de dar albumina, mais diuréticos e acertar balanços hídricos. E esperar...
A espera valeu a pena, parecia que estava a arribar... pelo menos as análises e os registos. Mas ele, apesar de mais desperto, continuava apático e praticamente sem falar. Num dia, estavamos nós de volta dele, a discutir possíveis exames e opções de tratamento, pareceu-me que ele nos observava pelo canto do olho. Sim, estava a observar-nos de certeza, com o tal sorriso irónico do costume, com se soubesse - como se tivesse a certeza! - o que aquilo ia dar e estivesse a gozar com os nossos esforços. De certeza, o sacana...
Quando iamos para sair, fiquei para trás... aproximei dele, bati-lhe no braço e chamei - Zé!... Ehh, Zé! Como se sente hoje? - E ele nada! Nada... só o mesmo sorriso! Estava já para sair quando me pareceu que ele queria dizer qualquer coisa. Aproximei-me novamente, debrucei-me e quase encostei a orelha à boca. E tenho a certeza - posso-vos garantir! - que o ouvi: Eu quero morrer, doutor! Deixe-me morrer...
Nesse dia, depois no Serviço, no carro, na estrada, em casa, dei por mim a pensar naquilo. Era isso mesmo, ele queria morrer... a apatia, a sonolência, o sorriso malandro... ele queria morrer, estava a fazer tudo de propósito, o sacana! No dia seguinte cheguei cedo e, ainda antes das higienes, entrei mansinho no quarto do Zé Custódio, abeirei-me da cama e cheguei a boca à orelha: Tás tramado comigo, Zé... nas minhas camas ninguém morre. Não te vou deixar morrer!
Saí, de peito cheio, enquanto olhava para ele e pareceu-me - garanto-vos que me pareceu! - que o sorriso lhe tinha desaparecido da cara. Reunimo-nos outra vez e decidimos muito: vamos acertar todas as medicações e soros; ver cálcios, fósforos e magnésios... e corrigir tudo; falar com a dietista e pô-lo a comer - que não come quase nada - e a suplementos calóricos; e falar com a fisioterapia que as massas musculares estão a desparecer; e carregar na lactulose, que se fôr encefalopatia hepática ele há-de acordar! Assim, foi... em dois ou três dias melhorou a olhos vistos, ficou mais desperto, articulava monossílabos e colaborava na alimentação. Até as análises não pioraram... Só o sorriso desapareceu e o Zé Custódio parecia mais triste, mais velho.
Durante esse dias reparei que sabia muito pouco dele - ou quase nada! - não sabia onde morava nem o que fazia. Família, nada! Também nunca lhe vi visitas, mas disseram-me que tinha tido algumas no início: os donos do tasquinha onde se abastecia, e onde parece que passava os dias, vieram vê-lo algumas vezes... e o filho deles fez-lhe dois desenhos infantis que estiveram todo o tempo pregados na cabeceira da cama.
Mas um dia piorou de novo... apareceu febre e afundou-se mais uma vez naquela sonolência apática. Quando me contaram, fui logo espreita-lo e lá estava - juro que estava! - o sorriso de novo. Mais exames, análises - surge uma Pseudomona na urina que se tratou com novos antibióticos - e o Zé Custódio na mesma... sonolento, confuso, sem reacção, mas de sorriso aberto. Isto não é nada afasia... é mutismo, porra! - disse eu, já de todo, enquanto pensavamos em qualquer coisa - O gajo está a fazer de propósito! Dois ou três dias depois teve uma hemorragia digestiva alta, o rim voltou a fraquejar e a bilirrubina pulou para mais de vinte. O sorriso dele já era quase uma gargalhada. Ouvia-se!
Um dia, cinquenta e quatro dias depois de ter entrado no Serviço, o Zé Custódio morreu. Às sete da manhã, como é próprio dos hospitais. Não o vi, mas tenho a certeza - tenho! - que o sorriso estava lá! O Zé Custódio quis morrer, o grande sacana...
PP: Uma semana depois, o Zé Custódio voltou. O corpo, finalmente, tinha sido reclamado por uns familiares de Lisboa mas haviam um probleminha. Afinal não se chamava Zé Custódio, mas sim João Custódio! E os tipos da agência funerária vieram ter conosco para mudar o certificado de óbito mas não se pode... têm que mudar a identificação no registo do hospital, o que pode não ser nada fácil. Espero bem que já tenham resolvido a coisa...
domingo, dezembro 10, 2006
Fim de Semana
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Foi um bom fim de semana. Excelente, até!
Foi inteirinho, todos os três dias inteirinhos, sem nenhum banco, sem hospital ou doentes. Inteirinho!
Na sexta, de manhã, zarpámos de mota até Sagres. Tempo limpo, bastante vento, velocidade de cruzeiro... fez-se bem. Só foi pena que a tasquinha onde abancámos não tivesse percebes!
O sábado foi todo em casa, a fazer qualquer coisa ou a ão fazer nada. A ler jornais ou a ver televisão... ou a escrever posts a despropósito! Só não fiquei de pijama... Adoro ficar o dia inteiro fechadinho, de pijama, roupão e pantufas, a arrastar-me de sofá em sofá, só à procura do sítio mais quente ou confortável.
Hoje fomos ali para os lados de S. Brás, almoçar com uns amigos. Andam um bocado desaparecidos nos últimos tempos, meteram-se numa boa alhada... Com quase quarenta anos arranjaram uma criancinha: agora tem quase 2 anos, grita muito e não para quieta. Vêem-se às aranhas! E eu olho para aquilo tudo com uma vaga sensação de dejá vu... [Até há por aqui pessoal que o conhece bem!]
PPP: É impressão minha ou, com este livro da Carolina, o Jorge Nuno pode ficar mesmo lixado?
Foi um bom fim de semana. Excelente, até!
Foi inteirinho, todos os três dias inteirinhos, sem nenhum banco, sem hospital ou doentes. Inteirinho!
Na sexta, de manhã, zarpámos de mota até Sagres. Tempo limpo, bastante vento, velocidade de cruzeiro... fez-se bem. Só foi pena que a tasquinha onde abancámos não tivesse percebes!
O sábado foi todo em casa, a fazer qualquer coisa ou a ão fazer nada. A ler jornais ou a ver televisão... ou a escrever posts a despropósito! Só não fiquei de pijama... Adoro ficar o dia inteiro fechadinho, de pijama, roupão e pantufas, a arrastar-me de sofá em sofá, só à procura do sítio mais quente ou confortável.
Hoje fomos ali para os lados de S. Brás, almoçar com uns amigos. Andam um bocado desaparecidos nos últimos tempos, meteram-se numa boa alhada... Com quase quarenta anos arranjaram uma criancinha: agora tem quase 2 anos, grita muito e não para quieta. Vêem-se às aranhas! E eu olho para aquilo tudo com uma vaga sensação de dejá vu... [Até há por aqui pessoal que o conhece bem!]
PPP: É impressão minha ou, com este livro da Carolina, o Jorge Nuno pode ficar mesmo lixado?
quinta-feira, dezembro 07, 2006
A Sila já foi operada
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A Sila foi operada esta semana.
Correu bem, disse o cirurgião sorridente: Tecnicamente, um êxito! Claro que sim, é sempre.
Correu bem, disse a Sila confiante: É desta! Também acho, tem que ser desta.
A Sila foi operada esta semana.
Correu bem, disse o cirurgião sorridente: Tecnicamente, um êxito! Claro que sim, é sempre.
Correu bem, disse a Sila confiante: É desta! Também acho, tem que ser desta.
segunda-feira, dezembro 04, 2006
Os últimos dois dias
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Para além de tudo o resto, estes últimos dois dias deitaram-me um bocado abaixo.
Em primeiro lugar, estive de banco: uma troca levou a que estivesse ontem, domingo, e hoje, segunda-feira, além de permanecer de prevenção durante a noite. A bom dizer, nem se pode dizer que o trabalho tenha abundando - vendo bem, ontem até escasseou muito... - mas sempre há decidir isto e aquilo, observar este ou aquele, subir escadas, ir ao laboratório, descer escadas, fazer endoscopias, etc... o que, sem quase se notar, vai moendo o corpinho.
Ainda por cima fui chamado às quatro da manhã... Estava tão ferradinho a dormir quem nem ouvia o telefone, e só ouvi porque levei dois pontapés que resmungaram "Vai lá que deve ser para ti". E era... A dona Júlia tinha voltado a sangrar da úlcera e era preciso fazer qualquer coisa! Confesso-vos que, quando vinha para o hospital lhe roguei umas pragas "Porra... podia ter recidivado hoje, teve todo o dia... ou amanhã, que já lá estava... Mas tinha que ser às quatro da manhã! Porra!"
Vá lá que a situação se resolveu bem: fez-se a endoscopia, o tratamento e a hemorragia parou. Hoje de manhã lá estava ela, a dona Júlia, de sorriso aberto e eu com cara de enterro!
Mas o pior, o que deitou mais abaixo, foi a terrível lesão que sofri. Foi no sábado, quando eu mais o Manel estavamos num combate de wrestling... Bem, na verdade não é um combate formal, verdadeiro digamos, mas antes pequenas demonstrações da técnica: eu tento imobilizá-lo e ele tenta soltar-se, a todo o custo. Já andamos a praticar isto desde há bastante tempo mas, nos últimos seis meses, tem sido cada vez mais difícil conseguir ganhar. Mais que difícil, quase impossível... e acabo sempre por lhe propor um empate! (nota: ele ainda não topou que não é empate, que me ganha porque não o consigo imobilizar)
Mas no sábado estava quase: arranjei uma pega potente, prendi-lhe os dois braços, imobilizei uma perna e afundei-lhe a cara no sofá até não o deixar respirar. Estava mesmo quase, quase... mas esqueci-me da outra perna, e só me lembrei dela quando ele me assentou uma valente joelhada aqui no fundo das costelas. Gritei ai, respirei fundo e disse Empate! Empate! E empatamos...
Só que tenho andado que mal posso mexer o tronco, e então à noite nem vos conto. Hoje tive que tomar um Brufen e esfregar-me com pomada Nupercaínal (não tinha outra...). Devo ter alguma costela rachada, de certeza!
Bem me dizem que esta brincadeira é uma parvoíce. Também acho, vou acabar com isto.
Para além de tudo o resto, estes últimos dois dias deitaram-me um bocado abaixo.
Em primeiro lugar, estive de banco: uma troca levou a que estivesse ontem, domingo, e hoje, segunda-feira, além de permanecer de prevenção durante a noite. A bom dizer, nem se pode dizer que o trabalho tenha abundando - vendo bem, ontem até escasseou muito... - mas sempre há decidir isto e aquilo, observar este ou aquele, subir escadas, ir ao laboratório, descer escadas, fazer endoscopias, etc... o que, sem quase se notar, vai moendo o corpinho.
Ainda por cima fui chamado às quatro da manhã... Estava tão ferradinho a dormir quem nem ouvia o telefone, e só ouvi porque levei dois pontapés que resmungaram "Vai lá que deve ser para ti". E era... A dona Júlia tinha voltado a sangrar da úlcera e era preciso fazer qualquer coisa! Confesso-vos que, quando vinha para o hospital lhe roguei umas pragas "Porra... podia ter recidivado hoje, teve todo o dia... ou amanhã, que já lá estava... Mas tinha que ser às quatro da manhã! Porra!"
Vá lá que a situação se resolveu bem: fez-se a endoscopia, o tratamento e a hemorragia parou. Hoje de manhã lá estava ela, a dona Júlia, de sorriso aberto e eu com cara de enterro!
Mas o pior, o que deitou mais abaixo, foi a terrível lesão que sofri. Foi no sábado, quando eu mais o Manel estavamos num combate de wrestling... Bem, na verdade não é um combate formal, verdadeiro digamos, mas antes pequenas demonstrações da técnica: eu tento imobilizá-lo e ele tenta soltar-se, a todo o custo. Já andamos a praticar isto desde há bastante tempo mas, nos últimos seis meses, tem sido cada vez mais difícil conseguir ganhar. Mais que difícil, quase impossível... e acabo sempre por lhe propor um empate! (nota: ele ainda não topou que não é empate, que me ganha porque não o consigo imobilizar)
Mas no sábado estava quase: arranjei uma pega potente, prendi-lhe os dois braços, imobilizei uma perna e afundei-lhe a cara no sofá até não o deixar respirar. Estava mesmo quase, quase... mas esqueci-me da outra perna, e só me lembrei dela quando ele me assentou uma valente joelhada aqui no fundo das costelas. Gritei ai, respirei fundo e disse Empate! Empate! E empatamos...
Só que tenho andado que mal posso mexer o tronco, e então à noite nem vos conto. Hoje tive que tomar um Brufen e esfregar-me com pomada Nupercaínal (não tinha outra...). Devo ter alguma costela rachada, de certeza!
Bem me dizem que esta brincadeira é uma parvoíce. Também acho, vou acabar com isto.
sexta-feira, dezembro 01, 2006
Nota Editorial
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Como os mais atentos não terão deixado de notar - só mesmo os muito atentos - o cabeçalho deste blog sofreu hoje um pequeno aditamento. E isto deveu-se ao extraordinário facto de que, de entre as trinta alminhas que por aqui passam diariamente, me começaram a chegar as mais estranhas reacções.
Há mais ou menos 1 mês, dois posts foram lidos - numa reunião formal - para tentar dar por provadas algumas acções e me atribuir determinadas intenções. Esta semana, uma pessoa que se sentiu visada noutro post manifestou veêmentemente o seu desagrado e prometeu desagravo.
Por isto aqui fica dito, com clareza: todos as histórias aqui relatadas são ficções. Claro que, como acontece em toda as histórias deste tipo, poderão ter sido inspiradas nalgum facto ou acontecimento real. Mas o que aparece aqui escrito é ficção, é novela, é romance... é o que lhe quiserem chamar, mas é uma história imaginada e inventada por mim.
Dito isto, vou procurar - como prometi - os Diários da Viagem. E o cachecol do Glorioso!
Como os mais atentos não terão deixado de notar - só mesmo os muito atentos - o cabeçalho deste blog sofreu hoje um pequeno aditamento. E isto deveu-se ao extraordinário facto de que, de entre as trinta alminhas que por aqui passam diariamente, me começaram a chegar as mais estranhas reacções.
Há mais ou menos 1 mês, dois posts foram lidos - numa reunião formal - para tentar dar por provadas algumas acções e me atribuir determinadas intenções. Esta semana, uma pessoa que se sentiu visada noutro post manifestou veêmentemente o seu desagrado e prometeu desagravo.
Por isto aqui fica dito, com clareza: todos as histórias aqui relatadas são ficções. Claro que, como acontece em toda as histórias deste tipo, poderão ter sido inspiradas nalgum facto ou acontecimento real. Mas o que aparece aqui escrito é ficção, é novela, é romance... é o que lhe quiserem chamar, mas é uma história imaginada e inventada por mim.
Dito isto, vou procurar - como prometi - os Diários da Viagem. E o cachecol do Glorioso!